02 October, 2007

( C )Alma

“Às vezes, a psicologia popular estabelece regras e expectativas impossíveis numa relação. Dizem-nos que devemos sempre exprimir os nossos sentimentos de uma forma clara e franca. Somos supostos de comunicar com os nossos cônjuges. Esperam que sejamos bons ouvintes, cheios de paciência e empatia. Dão-nos a ilusão de que é possível compreendermo-nos a nós próprios e aos outros. Porém, parece-me que todas essas expectativas ignoram a alma. A alma é sempre complexa. A maior parte dos seus pensamentos e emoções nunca poderiam ser expressos numa linguagem simples. Teríamos de ter uma paciência de Job e, mesmo assim, nunca compreenderíamos o outro, porque a alma, por natureza, não se presta à compreensão ou à clareza de expressão. Se pretendemos estar de alma na relação, teremos de prescindir dessas expectativas alheias à alma. Podemos ter de penetrar na confusão da alma do outro, sem qualquer esperança de vir a encontrar clareza, sem exigir que o outro exprima claramente os seus sentimentos e sem a expectativa de um dia essa pessoa crescer, melhorar ou exprimir-se de uma forma mais simples. Existem muitos aspectos da alma que mudam muito pouco com o tempo. Existem muitas coisas que permanecerão sempre numa meada espessa e emaranhada de recordações, medos, confusões e complexidades. A intimidade da alma exige que penetremos nesta sopa espessa, neste caleidoscópio multicolor de personalidade, com apreço pela sua riqueza e sem expectativas irrealistas que são psicologicamente moralistas. Podemos pensar que é «correcto e adequado» uma pessoa modificar a sua maneira e a sua alma ser diferente do que é, mas esse tipo de pensamento afasta-nos da própria natureza da pessoa"...

Thomas Moore