19 November, 2007

A ditadura do QI

Em 1962 é entregue o Nobel da Medicina a dois cientistas por terem imaginado a estrutura da dupla hélice do DNA. A imagem concebida por eles da molécula da vida, ainda hoje é aceite por todos e permitiu perceber como se copia a informação genética. James Watson e Francis Crick foram os descobridores (este último curiosamente admitiu antes de morrer que estava, durante os dias da mágica descoberta, quando projectou tal imagem, sob efeito da magia LSD).
Em Outubro de 2007 James Watson afirma que “toda a nossa política social é baseada no facto da inteligência dos africanos ser igual à nossa, embora todas as experiências nos digam que não é bem assim”. Watson acredita que os negros são menos inteligentes que os brancos e por isso prevê um futuro pessimista em relação ao continente africano.
E ainda (a)manda mais esta… “embora desejasse que todos fossemos iguais, quem tem de lidar com empregados negros sabe que tal não é verdade” …
(sendo que o outro é que mamou o LSD)
A velha questão da comparação entre inteligências de indivíduos está cada vez mais superada.
De facto, testes têm afirmado ao longo dos anos que existem diferenças nas médias de QI encontradas entre grupos, como as diferentes classes socio-económicas (rico e pobre) ou entre os grupos étnico-raciais (branco-negro). Muitos estudos mostram que o resultado médio dos negros é inferior 10 a 15 pontos à média da população branca.
Este tipo de testes têm a sua importância. Desde de Darwin que acreditamos que existe uma força na natureza, que evolui, e faz evoluir. Os seres mais bem adaptados prevalecem e tem mais vantagens de sobrevivência do que seres menos adaptados. Selecção Natural.
Também existe por outro lado uma Selecção Humana. "Numa sociedade organizada em castas não há necessidade de departamentos de pessoal nem de recrutamento e selecção de indivíduos.
Agricultores geram agricultores e príncipes geram príncipes. No entanto numa sociedade tão complexa e industrializada como a actual, onde os estratos socioeconómicos são muito diferentes e onde existe bastante mobilidade entre eles, torna-se necessário a avaliação sistemática das características humanas. Num tipo de sociedade como a nossa é importante implementar processos de selecção." Os testes e as entrevistas são, não só, uma forma viável de fazer a selecção humana profissional e educacional, mas também, um instrumento de avaliação neurológica, vocacional e também de diagnóstico dos vários níveis de atraso mental.
Os testes ajudaram e ajudam o nosso progredir e aí reside o seu valor.
Porém, estes mesmos testes não nos dizem tudo, muito menos permitem de alguma forma, equacionar conclusões como a de Watson.
Não estão isentos de Enviesamento cultural, por exemplo.
Os testes estão feitos para avaliar as competências cognitivas da classe media-branca, com uma linguagem, sintaxe e até dialectos diferentes, onde é normal os negros responderem com outro tipo de dificuldades acrescidas.
É complicado medir o que não se vê quanto mais o que não existe como condição.
Inteligência é um fenómeno complexo e como tal não se deveria resumir a um simples número árabico-hindu. QI = a um número, como se do preço da fruta se tratasse.
Os testes dificilmente abarcam, com toda a certeza, imensidão e multiplicidade, todos os tipos de inteligência que possam existir.
Abordam a maioria dos aspectos mentais mas só os que se sabem até há altura … (estamos também a falar de mente da qual se sabe ainda muito pouco e a qual está em constante mutação, tendo sempre evoluído ao longo dos tempos.)
A inteligência por outro lado, é a resposta a estímulos e depende de vários factores que interagem entre si.
_O berço (o ambiente em que a pessoa veio ao mundo)
_A educação, (a maneira segundo a qual são tratadas as nossas potencialidades)
_O ambiente (que nos rodeou e rodeia)
_A genética (informação genética que prediz em parte aquilo que somos)
_Efeito pigmaleão ou efeito Rosenthal (as pessoas tendem a emitir o comportamento que se espera delas)
É complicado dizer isto a uma cabeça com traços nazis…
que são várias as nuances que desenham a inteligência humana, e que antes do tal número que nos define está a nossa íntima natureza, semelhante à de quem nos produziu; a expressão do código dos nossos genes; o corpo e órgãos que possuímos;
estão as experiências que sentimos, os estímulos que nos apresentaram, as imagens que vimos e vemos, a família que tivemos e temos, educação formal e informal que nos foi e é transmitida, os momentos que guardamos e como convergimos todas estas energias no momento presente.
Se tudo isto é importante para nós, para a nossa evolução, desenvolvimento e adaptação, para a nossa inteligência, é fácil adivinhar que o futuro de África ainda não é risonho. O ambiente que muitos têm é tão avassalador, tão fraco em estímulos, tão destituído de condições básicas de sobrevivência humana, tão pobre, que se torna fácil adivinhar tal constatação. São ambientes pobres, maus para o desenvolvimento das competências intelectuais avaliadas pelos testes de inteligência.
Um QI de uma criança é tanto mais baixo quanto maior a sua permanência num meio mais desfavorecido, com menos estímulos e menor variabilidade.
Os africanos não são menos inteligentes que os brancos.
O ambiente em que vivem é menos inteligente. Mais pobre. Menos estimulante.
Se Watson-branco tivesse nascido em África em situação de fome extrema seria na mesma um cientista? (por sinal, a dizer merda)
Acho que não.
O mais grave da afirmação de Watson é a possibilidade de a razão das suas afirmações se poderem resumir a uma estratégia de marketing.
Watson tem um livro acabado preparado e pronto para venda. Uma afirmação desta já lhe valeu a atenção e protagonismo que não merecia mas que lhe faz ganhar mais guita.
Nos dias de hoje existem ainda algumas crenças falsas mas a crença que coloca uns seres humanos numa posição inferior à de outros é muito facilmente repelida com diversa argumentação científica que existe.