10 August, 2007

O contra ataque - Músicos largam editoras

Depois de em Maio último ter colocado para download gratuito no seu site “Rainin in Paradize”, o seu mais recente single, sem qualquer tipo de DRM e em formato MP3 de 192 Kbps, Manu Chao anunciou num editorial da edição da semana passada do Courrier International francês que La Radiolina, o seu novo álbum com data prevista de lançamento para 3 de Setembro, será o último disco da sua carreira.
“Não vou deixar a música, mas tendo em conta a evolução tecnológica talvez, daqui em diante, opte por colocar online cada canção nova que termine”.

Ao contrário de muitos artistas que continuam a lastimar os efeitos “devastadores” da partilha de música na Internet, Manu Chao não se resigna à crítica fácil dos seus fãs e considera que as mudanças no mundo da música e a diminuição das vendas dos discos exigem que os artistas concebam novas maneiras de difundir as suas obras e subsistir: através da Internet e dos concertos.

Aliás, o novo trabalho do músico, La Radiolina (”pequena rádio” em espanhol), é já exemplificativo dessa nova postura. Em lugar de se apresentar como uma obra final, completa e inamovível o álbum deverá ser ampliado com novas canções que o artista irá lançar ao longo dos próximos meses no seu site:

«Vou utilizar o meu site na Internet como uma estação de rádio (…) A ideia é continuar a enviar cartões postais sonoros através do meu site, de disponibilizar as canções umas atrás das outras sem pensar sistematicamente em termos de um “álbum”.»

Quando à situação actual, Manu Chao é pragmático e não tem ilusões: “As grandes companhias discográficas estão em dificuldade, é um pouco o fim dos dinossauros” admite, ao passo que “as outras indústrias, em particular aquelas que fabricam leitores de MP3s, aumentam os seus lucros. Uns perdem, outros ganham. E nós, cantores, temos que encontrar o nosso lugar para continuar.”

Apesar de reconhecer que não possui a solução ideal para o dilema que o negócio da música enfrenta, Manu Chao defende uma ética do público. Sendo a pirataria hoje em dia “fácil, massiva e inevitável”, ele deixa o recado: “Que as pessoas pirateiem os ‘grandes’ como eu, isso não me faz grande mossa. Mas que elas façam o esforço de comprar a música das pequenas labels“.

Sendo ele próprio um ex-”pirata”, como faz questão de frisar, seria aliás surpreendente que ele não compreendesse os anseios dos apreciadores de música dos dias de hoje: “Na altura, 90 por cento da minha discoteca era pirata. Não tinhamos dinheiro suficiente para comprar a músico mas desejávamos ouvi-la.”